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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Independência... ou sorte



Depois de passar uma semana brigada com todos na minha casa, parei pra pensar na tal força que resulta nesse meu gênio forte. Digo gênio forte por que em casa sou sempre julgada por sem educação e irrelevante. Ilusão delas, que não entendem que isso é fruto da criação que tive.
Fui criada dentro de casa, sem muita liberdade. Não podia sair pra brincar na rua, logo, ficava em casa lendo os livros da minha tia que é professora. Me sinto meio Liesel, mas hoje sou grata à ela, pois meu amor pela leitura só cresceu, junto comigo.
Quando mais crescida, perdi meu tio, meu padrinho e meus avós. Golpe baixo dessa vida que tanto trabalho me deu em desde pequena ver pessoas doentes dentro de casa sem nem ao menos saber do que se tratava. Meu padrinho era meu grande amor, e meu avô era meu herói e pai, pois até os doze, esta que vos fala viveu na sombra de um papai fantasma.
Virei mocinha, uma mocinha responsável. Arrumei namorado e conheci meu tão sonhado pai. Esses dois fatos me tornaram mais responsável, mais madura, e com isso senti que a vida me presenteou da forma mais viva possível.
Depois de perder pessoas e ganhar outras em troca, ganhei junto com isso uma liberdade que antes eu não tinha. Aprendi a me impor ante minha mãe e tias, que juntas cuidam de mim até hoje. Com minha irmã tendo ido embora de casa, passei a ser o alvo de tudo de bom e ruim que nos acontecia. Aprendi a me defender e a defender minha mãe. A partir daquele momento ela só tinha a mim, e eu a ela.
Minha mãe nunca me negou nada, sempre me deixou livre pra fazer o que eu queria, pra ir onde eu queria e quebrar a cara, aprendendo a levantar depois. Acho que minha mãe viu o quão forte eu tinha me tornado, pois mesmo fazendo grandes burradas, ela ainda acredita e confia em mim.
Hoje, com os meus quase dezoito anos, volto ao ponto de ter passado uma semana sem falar com elas aqui de casa. O motivo? O mais bobo possível, pra elas. Pra mim é sério, e eu sei que tenho razão em tudo que gritei na cara delas. Dei sermão, xinguei, disse que não fazia questão que elas me olhassem na cara enquanto não admitissem que eu estava certa, e assim foi. Óbvio que não ouvi um pedido de desculpas, mas depois de uma semana praticamente vivendo sozinha na minha própria casa, elas deram o braço a torcer.
Agora volto a me perguntar: esse ódio, essa sede de poder e essa certeza, são fruto do que? Delas. Da criação que elas me deram. Elas me deixaram viver por mim mesma, sem ser mandada, sem ter hora pra voltar pra casa, sem saber onde e com quem eu estava.
Minha independência de hoje é o meu presente, e o troféu que ganhei com isso é a sorte em não perder isso nunca. Por mais que elas tentem me tirar essa sorte em ser dona de mim, nunca conseguirão. Elas me criaram, eu sou um reflexo delas. Sou o monstrinho que há dezoito anos elas alimentam, e fazendo isso só deixam-no com mais e mais fome de vencer e estar acima do bem e do mal.

2 comentários:

  1. Também tive uma criação parecida, praticamente fui criado pela minha avó que era minha vizinha de cerca. Não podia sair da rua de casa até +/- a segunda série, quando meus pais me permitiram frequentar a biblioteca publica, + somente ela e com horário marcado pra voltar. Minha família sempre teve o habito da leitura e morria de inveja por não saber ler, contava os dias pra conseguir juntar minhas letrinhas e formar palavras. Assim que consegui fiz minha fichinha e minha mãe sempre me levava, depois comecei a ir sozinho. acho que na vida inteira nunca fiquei + que um dia de mal da minha mãe por mais que um dia, com meu irmão sim tive alguns problemas + tudo sempre se resolvia, meu único ressentimento com minha família foi nunca ter ganho na Mega Sena !!!

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